O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, disse hoje, na sua primeira visita de Estado a Paris, que o apoio financeiro e educativo francês permite o desenvolvimento e a criação de instituições sólidas no país. Enquanto isso, Portugal aposta forte em saber se os anjos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa têm sexo…
O Presidente guineense, em declarações à imprensa, no Palácio do Eliseu, antes do almoço com o seu homólogo francês, Emmanuel Macron disse que, “desde a nossa adesão à soberania internacional, a França está presente no nosso país para nos apoiar, acompanhar, ajudar a combater os problemas e criar instituições sólidas, eficazes e capazes de responder às necessidades da nossa população e promover o desenvolvimento harmonioso e durável”.
A relação dos dois países, descrita por Sissoco Embaló como “amigável, de cooperação e soberania” durante os últimos 50 anos, foi fortalecida após a eleição do chefe de Estado francês, em 2017, estando actualmente “num nível superior”, em que o país conta com os franceses para ajudar no “desenvolvimento da Guiné-Bissau”, afirmou.
“Eu vou ressalvar o apoio da França aos esforços de desenvolvimento moral do nosso país, em particular, o seu apoio financeiro, que nos permite acompanhar nosso défice monetário e a manutenção das condições de vida dos nossos cidadãos”, afirmou o Presidente guineense.
Após a visita histórica que Emmanuel Macron fez à Guiné-Bissau em 2022, esta visita de Estado de Umaro Sissoco Embaló a França tem como objectivo expressar a “vontade comum de consolidar as relações” entre o país europeu e o país africano – cuja língua oficial é o português, mas que possui países vizinhos francófonos – com o aumento de “trocas no domínio económico, académico, cultural e científico”.
“A nossa população aprecia, em particular, a contribuição das autoridades francesas na melhoria do nosso sistema educativo, com a aprendizagem da língua francesa graças à abertura de uma escola francesa em Bissau e às actividades do Centro Cultural francês”, acrescentou.
No encontro que ambos mantiveram em Paris, em 2023, na sequência da visita inédita de Emmanuel Macron a Bissau, em Julho de 2022, após a sua reeleição, os dois presidentes comemoraram o relançamento da relação bilateral entre os dois países, tendo Macron anunciado uma “ajuda orçamental de três milhões de euros e uma subvenção de quatro milhões de euros para a renovação das infra-estruturas desportivas e escolares nos estabelecimentos adjacentes” à abertura da nova escola francesa na capital guineense.
Hoje, na declaração conjunta à imprensa no Eliseu, Emmanuel Macron anunciou um novo pacote de “ajuda financeira a Guiné-Bissau, como foi feito nos anos anteriores”, sublinhando “o dinamismo da cooperação cultural, através também da francofonia”.
Referiu ainda que esta primeira e histórica visita oficial de um Presidente guineense a França é testemunho da “vitalidade” da relação bilateral entre os dois países.
Macron acrescentou que durante esta visita será confirmada a determinação em reforçar a cooperação em matéria de segurança, em particular marítima, de agricultura e de educação.
Segundo a Presidência francesa, os dois dirigentes debaterão também a situação regional no continente africano, em particular as situações de crise nos países vizinhos da Guiné-Bissau, num momento em que vários Estados do Sahel estão a pôr em causa a presença militar francesa nos seus territórios e a cortar laços antigos de parceria.
“Sublinho também o trabalho conjunto da Guiné-Bissau e dos 67 outros países parceiros, no quadro do Pacto de Paris para os Povos e o Planeta, no qual nós trabalhamos para lutar contra as desigualdades, forçar o combate à biodiversidade no resto do continente”, disse Emmanuel Macron, acrescentando que quer trabalhar com a Guiné-Bissau sobre a protecção dos oceanos, para a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano, que ocorrerá em Nice em Junho de 2025.
O chefe de Estado francês agradeceu a presença de Sissoco Embaló na cerimónia de reabertura da catedral de Notre-Dame de Paris, no sábado.
A Guiné-Bissau vive em instabilidade política, estando há um ano sem Parlamento (algo perfeitamente… normal) após a sua dissolução pelo Presidente, em Dezembro de 2023, o qual adiou igualmente as eleições legislativas antecipadas, que estavam agendadas para 24 de Novembro, por alegada falta de condições técnicas e financeiras para a realização do ato eleitoral.
Em 29 de Novembro, o Presidente guineense avisou a classe política que o país “é diferente” de Moçambique – cujo opositor, Venâncio Mondlane, tem convocado manifestações para contestar os resultados eleitorais – e que não tolerará desordens, como a passeata organizada pela coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka), liderada por Domingos Simões Pereira (antigo secretário-executivo da CPLP), em Bissau, no dia 21, na qual a polícia deteve vários opositores políticos.
Recorde-se que em Julho, Umaro Sissoco Embaló instou (ordenou, mais exactamente) o Ministério Público e o Ministério da Comunicação Social a actuarem contra a Direcção do Sindicato dos Jornalistas, que considerou “caduca”.
Sissoco Embaló reagiu, à saída da reunião do Conselho de Ministros, a que presidiu, à tomada de posição do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (Sinjotecs) da Guiné-Bissau que, na altura, tinha apelado ao boicote das actividades do Presidente.
“Eu mesmo boicotei os jornalistas (…), eu mesmo decretei que boicotei o Sindicato dos Jornalistas, que é um sindicato que até nem está legal”, declarou Embaló.
“Aqui também é porque a Procuradoria-Geral da República não está a fazer o seu trabalho. Quando não se está legal, não se pode falar. A Procuradoria-Geral da República e o Ministério da Comunicação Social têm de accionar os mecanismos”, afirmou Umaro Sissoco Embaló.
O chefe de Estado guineense reforçou a sua argumentação para afirmar que não se pode ter um órgão caduco e ter pessoas a falarem em nome dessa instituição. Para Umaro Sissoco Embaló, o Sindicato dos Jornalistas não pode ser de duas ou três pessoas.
“Eu também boicotei aquele vosso sindicato porque não está legal”, disse Embaló, referindo-se à Direcção do Sinjotecs, presidida pela jornalista Indira Correia Baldé, da RTP-África na Guiné-Bissau.
O Sinjotecs tinha emitido uma nota de repúdio e de apelo ao boicote à cobertura de acontecimentos relacionados com o Presidente guineense após este ter respondido com palavrões (“vá para o caralho”) a uma pergunta de um profissional que o tinha questionado sobre a data das eleições presidenciais, cuja realização ainda este ano tem sido exigida por vários dirigentes partidários depois de Embaló ter afirmado que só deverão realizar-se no final de 2025, já depois de terminado o seu mandato (Fevereiro de 2025).